Wednesday, December 06, 2006

As duas versões de uma história.

A versão do meu pai:
Fui pagar uma mensalidade da C&A para minha filha, lá no Shopping Iguatemi. Estacionei o carro próximo ao shopping, numa daquelas ruazinhas que você só pode parar se tiver o cartão de Zona Azul. Dá para contar nos dedos o número de ruas que hoje não são Z.A. em São Paulo. Sem falar na dificuldade para se achar um posto de venda de talão ( excluindo os não autorizados que obviamente cobram preços absurdos; e reparem como é gostoso pronunciar a palavra absurdo, quando alguma coisa realmente é absurda ). Noves fora, ficamos com a seguinte conclusão matemática : o número de ruas que são Z.A. é inversamente proporcional ao número de postos de venda de talão. Sorte para quem multa. Azar de quem dirige.

Minha filha não podia andar ( por causa daquele acidente que a deixou parecida com a Shakira...Ops! Quero dizer, com os “Pies Descalzos” dela ) e por isso ficou no carro. Pedi a ela que, se por um acaso aparecesse um fiscal da Z.A., dissesse a ele que eu tinha ido comprar um talão e já voltava. Não sei se o fiscal ia cair nessa, mas de qualquer maneira fui até o shopping, rezando para ele não aparecer.

Infelizmente existe a Lei de Murphy, e quando voltei, lá estava ele. Alto, moço, uniforme azul, próximo ao carro, falando com a minha filha. Há quanto tempo estaria ele ali ? Com certeza, mais tempo do que eu normalmente levaria para comprar um talão de Z.A. Essa não. Outra multa.

A minha versão:
Meu pai me deixou no carro e foi pagar meu boleto da C&A, no Shopping Iguatemi. Como a rua em que ele estacionou era Z.A., a frase que eu precisava ter na ponta da língua era a seguinte: “Moço, meu pai foi comprar o talão da Z.A. e já vem, tá ?” Só meu pai mesmo para achar que isso ia evitar uma multa.

Enquanto o fiscal não vinha ( meu nível de pessimismo tinha aumentado um pouco naquele dia), liguei o rádio para me distrair. Foi então que vi um menino atravessando a rua, e pensei “Puxa ! Conheço ele. Estudou comigo.” Só que eu não tinha tanta certeza disso. Mas, melhor pagar um mico, do que deixar um amigo de infância passar por mim sem perceber.” Esperei ele se aproximar, e lá fui eu gritar pra fora do carro : “Cebola!!” O apelido foi a única coisa que me veio à cabeça naquela hora. Só fui lembrar do nome depois: André. Tive sorte, era ele mesmo. Claro que o fato de existirem no mundo, mais Andrés do que Cebolas, contribuiu para o meu acerto.

Meu amigo também me reconheceu. Ficamos um tempão conversando, quando meu pai chegou. Detalhe : meu amigo era advogado, alto, e estava com um terno azul naquele dia. Adivinhem com quem meu pai não confundiu ele ?

E o mais engraçado ainda é que, gritando o apelido dele na rua, descobri que levo jeito para ser feirante também. Jamais imaginei que teria vocação para isso.

Pequeno momento feliz : encontrar um amigo de infância na rua; entender que as histórias tem sempre um outro lado ( quase sempre oculto aos nossos olhos ), e que sempre existe mais de uma maneira de ver as coisas. Ah, já ia me esquecendo, nunca é tarde para se descobrir uma outra vocação.

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