O lixeiro que usava mochila.
Oito horas da manhã, estou indo para o trabalho. Passo antes no banco para tirar dinheiro. Aliás, a melhor hora para se ir ao banco – quando se pode usar o caixa rápido claro – sem enfrentar fila. Não tinha mais ninguém, a não ser eu, lá dentro. Mas de repente surge uma menina, que estranhamente não vai ao caixa tirar dinheiro ou coisa parecida. Ela simplesmente caminha até o canto da sala, onde havia uma lata de lixo. Mas ela também não foi jogar alguma coisa fora – o que é de se esperar de uma pessoa normal, ou que pelo menos aparenta ser – tipo um chiclete ou um papel, por exemplo. Pelo contrário, ela tirou um saco de lixo vazio – daqueles bem grandes – de trás da lixeira ( o que achei bem curioso ); ainda mais por ela estar vestida assim como eu, de calça jeans e camiseta e mochila nas costas. Só sei que ela saiu do banco com o saco na mão e nunca mais a vi. E não entendi bulhufas do que aconteceu. Como era cedo, e eu estava com muito sono naquele dia, pode ser que aquilo não tenha passado de uma visão surreal. Pode ser, porque não ?
Poderia ter sido mesmo uma visão do além, a não ser por um motivo. Uma semana depois, desço do ônibus ( o ponto fica a umas duas quadras do mesmo banco ), e de longe vejo uma menina, bem parecida com aquela que tinha entrado no banco no outro dia. A “mesma” calça jeans, a “mesma” camiseta, a “mesma” mochila, só não dava para ver o rosto. Seria a “mesma” menina da semana passada ? Não tive mais dúvidas enquanto ia me aproximando, pois notei que ela varria a calçada da frente do banco e jogava a sujeira num saco de lixo que estava no chão perto dela. Sim, pasmem, um saco de lixo igual ao que ela pegou – e como acabei descobrindo dedutivamente logo em seguida, deve pegar todos os dias para limpar a calçada do banco – uma semana antes, detrás da lixeira do banco.
Depois do mistério solucionado, só restaram duas dúvidas na minha cabeça : 1) como assim um funcionário de banco vestindo calça jeans e camiseta ? onde foi parar o uniforme ? 2) e a vassoura, de onde ela pegou ? ou era dobrável, e ela guardava na mochila ?
Pequeno momento feliz : para mim, é ter uma memória visual apurada, capaz de me fazer lembrar de coisas aparentemente insignificantes, mas que felizmente servem de matéria para crônicas como esta. Para vocês, textos e mais textos para ler e rir. E para a menina-lixeira, bem, para ela deve ser um alívio ter que trabalhar sem uniforme.
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