As bactérias do ouvido humano.
Imaginem a seguinte cena :
Um fim de tarde frio em São Paulo, em plena Avenida Santo Amaro, o trânsito aquela beleza. Uma menina entra no ônibus, toda enrolada no seu cachecol ( e no fio do seu walkman também ), e quando vai pagar, descobre que seu walkman tinha ficado ligado a tarde toda, e se irrita com a possibilidade de ficar sem som naquele trânsito caótico ( isso já aconteceu outras vezes, mas ela sempre carrega consigo um livro para esses imprevistos ).
De repente, toda aquela sua ira vai embora ( seu rádio poderia ter quebrado naquele momento, que ela nem ia ligar ), por causa de um par de olhos ( eram olhos fofos, aqueles que transmitem o riso da pessoa, sem ela jamais ter mexido a boca; a sensação de olhar para uma pessoa com esses olhos é demais, como um tranquilizante que entrou nas suas veias ) que jamais olharam para ela daquele jeito. Parecia que o chão do ônibus tinha sumido, e ela precisava sentar imediatamente ( de preferência perto do dono desses olhos ) para não cair. Foi o que ela fez. E, coincidência ou não, tinha um lugar vago bem atrás do rapaz. Sentou.
Estava tão inquieta que não parava de se mexer. Para a sua sorte, o rapaz parecia igualmente agitado, tanto que de vez em quando, dava umas olhadas para trás, na direção dela. Isso já era um ótimo sinal para o começo de alguma coisa, pensou. Ela, com seus olhos ágeis, acompanhava todo e qualquer movimento do rapaz. Ele, que parecia ser tão fofo quanto seus olhos ( e quanto seu agasalho também ). Alto ( quando ele levantou para tirar o agasalho, ela teve que olhar 90º para cima ), magro, cabelos castanhos, pele clara, barba e bigode ( um típico Krakauer - autor de livros de aventura ).
Queria mesmo era agarrar ele - desejando que o ônibus estivesse fazio, para poder fazer isso. Foi então que ela teve uma brilhante idéia para puxar conversa. Cutucou delicadamente seu ombro e perguntou "Você sabe se esse ônibus passa no Largo da Batata ?" ( é óbvio que ela sabia que passava; e se fosse um pouquinho mais atirada, perguntaria "Esse ônibus vai até o Largo da Batata com você ?" ); e ele virou para trás "Passa sim".
Pela primeira vez ela desejou que o trânsito continuasse daquele jeito, caótico. Passaram-se minutos - muitos - sem que os dois se falassem novamente. Ela, já quase em prantos ( no seu walkman estava tocando uma tal música, que dizia "eu não sei parar de te olhar..." ), não sabia mais o que falar para puxar assunto. Foi quando ele virou para trás e disse "o Largo da Batata é o ponto final, tá ?". Pronto, aí estava a deixa, mas ela não se controlou e deu uma risada - seu nervosismo era visível - o que fez ele perguntar "o que foi ?"; e ela ( sem deixar de ser bizarra, nem mesmo nessas horas ), enfiou seu fone no ouvido dele e disse "sabe qual é essa música?"; ele "sei". Mas quem disse que ele estava sentindo a mesma coisa que ela, quando ouvia a tal música ? pensou.
Nesse meio tempo, a menina que estava ao lado dele levantou, e ele perguntou se ela não queria sentar. Como num passe de mágica ( a rapidez dela foi incrível ), ela sentou onde queria estar a viagem inteira, ao lado dele. Ficaram um bom tempo conversando, quer dizer, ela falava, e ele dava risada. Ela parecia estar tão insandecida, que nem disse seu nome ao rapaz. Ele só descobriu, graças a um fato - dentre os vários que ela contou - que aconteceu com ela no trabalho. Ele aproveitou então, para dizer o seu nome também.
Pronto ! As apresentações foram feitas. Mas o tempo tinha se esgotado. Ele precisava descer, e disse que um dia passava no trabalho dela - ela, muito esperta e quase nada falante, já tinha dado o nome e o endereço de onde trabalhava.
Ela prometeu a si mesma, não ficar olhando para ele, depois que descesse do ônibus. Mas, para quem já tinha feito tantas bizarrices naquele dia, uma a mais não ia fazer diferença. Ela olhou. E ele, meio sem jeito, virou para trás e deu um tchauzinho. Ela amou isso. Mas ficou triste por não saber, quando iria olhar para aqueles olhos novamente.
E o pior, é que ela contou a história para sua mãe e teve que ouvir a seguinte frase "Filha, tome cuidado ! É perigoso falar com estranhos na rua." E suas amigas, disseram inconformadas " Você é louca ? E se ele tem alguma doença no ouvido ? E as bactérias que ele pode ter passado para você ?"
Bem, se vocês acompanharam meu blog até agora, é fácil saber que essa menina do ônibus sou eu.
Pequeno momento feliz : querer muito alguma coisa, e de tanto desejar, a tal coisa acontecer. Não só para momentos como esse que descrevi, mas para tudo na vida. Querer, com muita vontade e sinceridade, é o que faz as coisas acontecerem.
4 Comments:
Camilinha, quero ser como vc quando crescer....
beijocas da fã e amiga Thaisinha
nunca desista de seus sonhos..ADRI
gostei muita da sua esperiencia relatada continue escrevendo outras historias vividas bjs aluna da quarta-serie.
ass.katly
katly sou aluna da luis carlos da fonseca em madureira parabens bjs !!!
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