Onde foi parar o mala ? ( sou descendente de alemão sim, mas não foi por isso que troquei o gênero do artigo )
As nove crônicas seguintes foram resultado da minha viagem de férias para Camburiú que fiz esse ano. Boa leitura !!
A primeira história da viagem já começou dentro do ônibus. Foram quase três anos sem férias...logo, deveria estar feliz e contente. Mas não foi bem assim que tudo começou.
Já fiquei estressada ao entrar no ônibus e ver alguém sentado bem no meu lugar ( descobri que número de poltrona em ônibus é como compoteira de cristal, só serve de enfeite ), e mais nervosa ainda quando soube que se tratava de dois irmãos que não queriam de jeito algum sentar separados – por que diabos não compraram dois lugares juntos então ? Contei até dez...respirei fundo e resolvi abdicar da minha tão desejada janela para sentar no corredor. Estava me acalmando quando um cara mala começou a puxar papo – ele era tão chato, que deveria estar viajando no bagageiro.
Estava louca para ligar meu radio e ouvir um pouco de música ( um dos meus hobbies preferidos ). O problema é que o tal rapaz ( aqui um eufemismo meu...ele era sim um quarentão com uma barriguinha bem saliente ) simplesmente ignorou meus fones de ouvido e tentava de cinco em cinco minutos, iniciar uma conversa comigo. Entre uma música e outra, era obrigada a responder perguntas do tipo “Você conhece Camburiú ?” ou então “Com que você trabalha ?” e ainda “Tão bonita...como não tem namorado ?”
Aquelas perguntas foram acabando aos poucos com meu bom humor. Prometi para mim mesma que aquela, seria uma “viagem desapego”, ou seja, livre de qualquer aborrecimento. O que eu não imaginava era ter que desapegar logo de cara do meu próprio rádio e bem no começo da viagem.
Por um breve momento, desejei com todas as minhas forças que o rapaz não estivesse naquele ônibus. E inesperadamente meu sofrimento acabou quando o ônibus fez sua primeira parada. Depois de trinta minutos, o motorista passou por mim, contando os passageiros, fechou a porta e voltou para a estrada. Detalhe : o tal rapaz não estava mais ao meu lado. E em nenhum outro lugar do ônibus. Avisar ou não o motorista ? Já tinha me decidido pela segunda alternativa, quando meu anjinho me cutucou, me fazendo ir até o motorista e perguntar pelo dito cujo. Pensei “Das duas uma. Ou ele perdeu a hora e ficou para trás, ou foi confundido com uma mala ( o que achei imediatamente mais provável ) e posto no bagageiro. Isso soou como música para meus ouvidos outra vez. Mas para minha surpresa, fiquei sabendo que o rapaz havia decidido ficar em Registro ( a primeira cidade onde o ônibus faz uma parada ). Fiquei intrigada “Como assim ?! Ele tinha me dito que iria passar as férias em Camburiú...”
Pequeno Momento Furioso : na verdade, o cara deveria ser um charlatão, sem vergonha, que inventava histórias para chavecar meninas viajantes desacompanhadas. Vendo que não dei bola, resolveu sumir.
Pequeno Momento Feliz : no fundo, o cara era só um aventureiro, gente boa, daqueles bem desapegados, que sem mais nem menos, resolve dar um novo rumo para as coisas. Admiro pessoas assim, apesar de achar que ele se enquadra mais no tipo charlatão.