Sunday, July 22, 2007

Onde foi parar o mala ? ( sou descendente de alemão sim, mas não foi por isso que troquei o gênero do artigo )

As nove crônicas seguintes foram resultado da minha viagem de férias para Camburiú que fiz esse ano. Boa leitura !!


A primeira história da viagem já começou dentro do ônibus. Foram quase três anos sem férias...logo, deveria estar feliz e contente. Mas não foi bem assim que tudo começou.

Já fiquei estressada ao entrar no ônibus e ver alguém sentado bem no meu lugar ( descobri que número de poltrona em ônibus é como compoteira de cristal, só serve de enfeite ), e mais nervosa ainda quando soube que se tratava de dois irmãos que não queriam de jeito algum sentar separados – por que diabos não compraram dois lugares juntos então ? Contei até dez...respirei fundo e resolvi abdicar da minha tão desejada janela para sentar no corredor. Estava me acalmando quando um cara mala começou a puxar papo – ele era tão chato, que deveria estar viajando no bagageiro.

Estava louca para ligar meu radio e ouvir um pouco de música ( um dos meus hobbies preferidos ). O problema é que o tal rapaz ( aqui um eufemismo meu...ele era sim um quarentão com uma barriguinha bem saliente ) simplesmente ignorou meus fones de ouvido e tentava de cinco em cinco minutos, iniciar uma conversa comigo. Entre uma música e outra, era obrigada a responder perguntas do tipo “Você conhece Camburiú ?” ou então “Com que você trabalha ?” e ainda “Tão bonita...como não tem namorado ?”

Aquelas perguntas foram acabando aos poucos com meu bom humor. Prometi para mim mesma que aquela, seria uma “viagem desapego”, ou seja, livre de qualquer aborrecimento. O que eu não imaginava era ter que desapegar logo de cara do meu próprio rádio e bem no começo da viagem.

Por um breve momento, desejei com todas as minhas forças que o rapaz não estivesse naquele ônibus. E inesperadamente meu sofrimento acabou quando o ônibus fez sua primeira parada. Depois de trinta minutos, o motorista passou por mim, contando os passageiros, fechou a porta e voltou para a estrada. Detalhe : o tal rapaz não estava mais ao meu lado. E em nenhum outro lugar do ônibus. Avisar ou não o motorista ? Já tinha me decidido pela segunda alternativa, quando meu anjinho me cutucou, me fazendo ir até o motorista e perguntar pelo dito cujo. Pensei “Das duas uma. Ou ele perdeu a hora e ficou para trás, ou foi confundido com uma mala ( o que achei imediatamente mais provável ) e posto no bagageiro. Isso soou como música para meus ouvidos outra vez. Mas para minha surpresa, fiquei sabendo que o rapaz havia decidido ficar em Registro ( a primeira cidade onde o ônibus faz uma parada ). Fiquei intrigada “Como assim ?! Ele tinha me dito que iria passar as férias em Camburiú...”

Pequeno Momento Furioso : na verdade, o cara deveria ser um charlatão, sem vergonha, que inventava histórias para chavecar meninas viajantes desacompanhadas. Vendo que não dei bola, resolveu sumir.

Pequeno Momento Feliz : no fundo, o cara era só um aventureiro, gente boa, daqueles bem desapegados, que sem mais nem menos, resolve dar um novo rumo para as coisas. Admiro pessoas assim, apesar de achar que ele se enquadra mais no tipo charlatão.

Gente famosa também passa por maus bocados.

Como por exemplo, beijar o nariz de um ser alienígena. Foi isso que Drew Barrymore ( atriz muito divertida que fez comédias como “Para Sempre Cinderela”, “Como Se Fosse a Primeira Vez” e “Nunca Fui Beijada” ) teve que fazer quando tinha apenas 10 anos. Sim. Para quem não se lembra, ela era a garotinha loira, amiga do E.T, no filme “E.T O Extra-Terrestre” ( descobri isso num programa de biografias na TV ).

E depois de uma bitoca no nariz daquele feioso, acreditem, anos mais tarde, a atriz entrou para o hall dos famosos de Hollywood e conseguiu deixar sua mãozinha na calçada da fama da cidade ( eu, deixaria o pé também – se o Pato Donald deixou, porque eu não poderia ? ).

Tudo bem, ela não tinha como negar o papel nesse filme. Mas se fosse eu, preferiria beijar um sapo. Pelo menos assim, eu poderia encontrar um príncipe, e não ficar olhando o ET subir na nave e me largar sozinha para nunca mais voltar.

E por falar em filmes, morro de vergonha quando alguém me pergunta se assisti “E.T O Extra-Terrestre”. Lembro que comecei a chorar antes da metade do filme ( e não parei mais ), de tão triste que achei a história. Depois disso, nunca mais quis ver o filme de novo. Acho que isso foi um trauma de infância para mim. Detesto manteiga, mas para certas coisas, sou muito manteiga derretida. “Criança” estranha eu, não ?

Pequenos momentos felizes : ainda bem que a vida está repleta deles, mas infelizmente só nos damos conta depois de termos passado por vários outros pequenos momentos ( muitas vezes tristes, e não tão pequenos assim ). E segundo a biografia da atriz Drew Barrymore, além de beijar o E.T, ela teve uma família com histórico de alcoolismo, enfrentou a difícil separação dos pais, além de ter sido viciada em drogas. Ufa ! Mas afinal, a felicidade só existe porque um dia existiu a tristeza
.

E se dissesse que vi um E.T dançando forró na praia ?

Nem eu acreditaria. Mas aconteceu, bem na minha frente, e não tinha como passar batido por isso. Lembrem-se sempre : nas minhas histórias, tudo pode acontecer, e o melhor, é tudo verdade.

Numa bela tarde, resolvi caminhar no calçadão da praia. E como de costume, estava com os fones no ouvido escutando música. Não sei porque, resolvi abaixar o volume da música. Foi quando escutei – uns 100 metros à frente – um batuque diferente, e não por isso agradável, no último volume. Para a tristeza dos meus ouvidos, era um forró daqueles bem bregas. E o que forró tem a ver com praia ? Para mim, nada.

Descobri, me aproximando cada vez mais do som, que a bagunça vinha de um carro, cujo porta-malas estava aberto. Eram dois sujeitos bebendo e dançando na calçada...não tive tempo de olhar a placa do carro, mas possivelmente era de alguma cidadezinha do interior de São Paulo, ou talvez de Minas.

Não tinha como deixar de notar um gigantesco auto-falante, praticamente do tamanho do porta-malas; e também um bichinho esquisito, de cor marrom esverdeada, se sacudindo em cima da caixa de som. Não demorei muito para perceber que o tal bichinho verde estranho, era nada mais nada menos do que um bonequinho de borracha do E.T . E o pior é que aqueles dois “caipiras” deviam estar achando aquela cena o máximo da diversão. Inclusive eu ( vejam bem, engraçado só para o meu blog, claro ).

Continuei minha caminhada, pensando no porquê eu ouvia minhas músicas quietinha no fone de ouvido, enquanto outras pessoas, sem o menor “simancol”, podiam ouvir “música” ( sim ! o forró merece essas aspas aqui ) no último volume. Coitado do ET dentro daquele carro !!

A resposta para essa minha dúvida estava escrita numa placa que encontrei mais adiante : “PROIBIDO O USO DE EQUIPAMENTOS SONOROS QUE PERTURBEM O SOSSEGO ALHEIO” ( nesse caso, o meu ) . Na placa também estava escrito o código, o artigo, e tudo o mais que uma lei deve ter. “Alguém sabe onde foram parar os fiscais dessa praia ?! Com certeza, em alguma barraquinha tomando água de coco !”,fiquei com vontade de gritar. Pode ? No Brasil, pode. Tenho pena de nós. E do ET também.

Pequeno momento feliz + grande momento indignado : achei bem interessante a prefeitura de Camburiú ( alguém já viu isso aqui em São Paulo ? Eu não. ) ter colocado placas ao longo da enseada, com as leis da boa convivência em lugares públicos. Mas o problema é sempre o mesmo : onde estão os fiscais ? Se é que eles existem.

Minha avó deveria ter sido lutadora de boxe.

Ir ao cinema com a minha avó nas minhas férias, me fez lembrar de uma cena engraçada. É a história de uma mãe que levou o filho ao cinema, para assistir a um filme de faroeste – um dos preferidos do menino.

Era uma bela tarde de quarta-feira, quando um jovem homem dos seus trinta e cinco anos, resolveu ( não por falta de assentos vazios no cinema ) sentar-se bem ao lado da mãe do menino. Mal sabia ele do que estava por vir nos próximos minutos. E se soubesse, com certeza não teria sentado ao lado daquela mulher. Mas o atrevimento foi maior que a sua cautela.

Tudo estava indo bem, até que o jovem teve a infeliz idéia de afastar suas pernas para encostar na perna da mulher. E num rápido reflexo, ela se esquivou do garanhão, se aproximando mais do filho. Nervosa e premeditando uma nova investida do rapaz, tratou logo de pensar num “golpe” para acabar de vez com aquela palhaçada.

Não precisou pensar muito, quando o rapaz lançou-lhe os longos braços em volta do seu pescoço. E numa rápida defensiva, ela devolveu-lhe um soco bem no meio da cara ( diga-se de passagem, de pau ), que por pouco não quebrou seu nariz.

Ainda bem que, para o menino, o “bang-bang” do faroeste estava mais interessante do que o bang-bang da sua mãe com o jovem rapaz, e ele não viu nada do que tinha acontecido do seu lado. E a vítima da sua mãe saiu de fininho, toda ensangüentada do cinema.

Isso aconteceu há uns 50 anos, quando minha avó – a mulher do cinema – ainda tinha 30 anos ( e muita força no braço também ), e meu pai – o menino que adorava faroeste – era apenas um garotinho indefeso de 10 anos de idade.

Pequeno momento feliz/triste : confesso que minha avó exagerou um pouco ( uma bela arranhada ou mordida seria suficiente ), mas fico feliz por saber que ela era, e continua sendo até hoje, uma mulher forte, com garra, e que sabe se dar o devido valor diante de uma situação de assédio como essa. O mesmo não se pode dizer em relação a maioria das mulheres hoje em dia. Infelizmente.





Minha tia foi um engano !!

Descobri isso conversando com a minha avó uma noite dessas.

Tudo começou quando meu avô, depois que meu pai nasceu, disse que não queria ter mais filhos. Imaginei como deveria ser triste, ter um pai filho único, sem irmãos para brincar...E eu, sem tios, nem primos...snif !

Já que é para formar uma família, que a façam direito poxa vida ! Calma, não estou incentivando as pessoas a terem um time de futebol, mas pelo menos uma dupla de jogadores de tênis.

Afinal, árvore genética não teria esse nome se não crescesse com seus galhos para os lados também. Do contrário, iria parecer um daqueles pés de palmito, que só tem altura.

E parece que minha avó era da mesma opinião. Uma bela noite, ela resolveu que a árvore tinha que ter mais um galhinho e acabou pregando uma peça no meu avô com a seguinte frase : “Não querido, não estou no período fértil...Não temos com que se preocupar hoje.” E lá foram eles.

O resultado vocês já devem ter adivinhado : acabei ganhando uma tia e mais dois primos. E olha que se dependesse da minha avó, a árvore do palmito ia se transformar numa mangueira, da noite para o dia. Mas dessa vez, meu avô conseguiu podar a idéia dela e parou no segundo galho – em outras palavras, na minha tia.
Como é fácil enganar os homens. Minha avó que o diga.

Pequeno momento feliz: você já deve ter ouvido alguém dizer “Ouça a voz da experiência.” Mas isso não se trata somente de dar conselhos, pode significar também a atenção que se dá quando se conversa com pessoas mais velhas – para não dizer, mais experientes - que a gente.

E eu sempre tento me lembrar disso, quando estou conversando com a minha avó. Tanto que algumas das minhas crônicas se originaram de muitas noitadas conversando com ela. Portanto, prestem sempre atenção ao que as pessoas mais velhas tem a dizer - do mesmo jeito que, quem sabe seu neto, um dia vai ouvir você contar suas trapalhadas quando era jovem.



A pergunta mais estranha que já me fizeram ( pelo menos até hoje ).

Não é toda hora que você passa perto de um orelhão e ouve ele tocar. Assim como não é muito comum, uma pessoa sem mais nem menos, se aproximar e perguntar se você por um acaso, não ouviu o orelhão tocar.

Nessa história, são três os personagens principais: uma senhora com sotaque “purtuguês”, eu e um orelhão.

Já era noite e eu estava sentada à beira-mar, escutando música com meus fones no ouvido. Tudo o que eu adoro fazer: ficar quietinha ouvindo música. Mas como nem tudo é como a gente quer ( reparem, quanto mais a gente quer ficar quieta, mais atraímos pessoas que querem conversar ), outra vez alguém me fez tirar os fones do ouvido ( vocês se lembram do rapaz do ônibus ? pois é...).

Estava tão distraída que me assustei, quando uma senhora se aproximou e fez a seguinte pergunta “Vucê ouviu si ess orelhão tucou ?” Respondi que não, achando engraçado aquele sotaque lusitano. Seria capaz de imaginar qualquer pergunta vindo daquela senhora, menos aquela.

E acreditem, de tão lindo que o mar estava naquela noite, fiquei olhando quase meia hora para ele, sem nem mesmo piscar os olhos. E a tal senhora também fez a mesma coisa. Não com o mar, mas com o orelhão que teimava em não tocar. Ela parecia tão desapontada, que por um instante senti pena dela. Pensei “Pobre purtuguesa...tão pobre quanto uma pizza portuguesa sem cebola e sem azeitona”. Deu até vontade de chacoalhar o orelhão, para ver se ele não dava ao menos um sinal, um “trrim” sequer. Vai ver que era um parente tentando ligar de Portugal, quem sabe ?

Como já estava tarde, desisti de ver o desfecho daquela história; deixei os dois lá – ela e o orelhão - e fui para casa dormir.

Pequeno momento desagradável que gerou um pequeno momento feliz: por mais que você não esteja com vontade de ser incomodado ou de falar com alguém, doe um pouco do seu tempo em certas ocasiões; ele pode render resultados inesperados, como no meu caso, essa crônica que vocês acabaram de ler.


Pausa para uma reflexão.

Estava assistindo TV com a minha avó, quando ouvi a seguinte frase :

“Quando encontrar uma pedra no seu caminho, se for pequena chuta; e se for grande, senta em cima dela e descansa.”

Não me lembro de quem é a frase, mas sentar e descansar, é só o que eu tenho feito com as pedras que aparecem no meu caminho ultimamente. Será que assim elas vão desaparecer algum dia ? Who knows ? Quem sabe ?

Não sei não. Esse negócio de chutar ou, sentar e descansar...tem é cara de simpatia, isso sim. Acho que o autor dessa frase teve que fazer as duas coisas, mas preferiu a segunda – sentar e descansar. Afinal, melhor um calo no traseiro, do que um na ponta do pé.

Pequeno-momento feliz : o próprio título da crônica já diz. Parar e refletir. Por que não fazer uma pausa de vez em quando, e refletir sobre um pensamento ou alguma coisa que nos intriga ? Acreditem, isso faz muito bem aos nossos neurônios.

O Pato aqui ( para quem não se lembra, eu imito o Pato Donald ) teve que pagar o pato lá.

Cena I
O namorado: “Amor, que tal colocarmos uma foto nossa aqui ?”
A aniversariante: “Bem que ela disse...Era só um detalhe. Nem parece que foi quebrado!!”
O namorado da aniversariante: “Vamos fazer o seguinte...a gente usa um pouco de cola aqui e pronto.”
A aniversariante: “Que lindo. É um porta-retrato. Adorei! Como você disse, ela é mesmo um amor de pessoa.”
O namorado: “Vamos abrir primeiro o que a minha vizinha te deu. Estou curioso para saber o que é.”
A aniversariante: “Ufa! Já que todos foram embora, podemos abrir os presentes.”

Cena II
Minha avó: “Espero que você goste.”
A aniversariante: “Não fique chateada. O que vale é a intenção. Obrigada, a senhora não precisava se incomodar...”
Minha avó: “Comprei uma lembrancinha...mas por descuido meu, caiu no chão e...”
A aniversariante: “Fico contente que a senhora pôde vir a minha festa.”
Minha avó: “Feliz aniversário, mocinha!”


Cena III
Eu: ” Não vejo a hora dessa festa chegar e ver a cara que ela vai fazer. Quer dizer, prefiro nem estar por perto quando ela for abrir. Estou morrendo de vergonha...”
Minha avó: “Que bom que vai comigo, assim você me faz companhia. E pode deixar...vou falar que fui eu quem...”
Eu: “Claro que vou com você vó, mas o que a gente vai dizer a ela ? Ninguém gosta de ganhar presente quebrado, né ?”
Minha avó: “Pronto! Já tenho o que dar de presente para a menina. Você vai comigo? “

Cena IV
Eu: “Não quero mais esse pato de pelúcia maldito. Foi por causa dele que entrei aqui e quebrei o porta-retrato. Vamos embora dessa loja...não acredito que isso esteja acontecendo comigo, rrrrr!!”
Minha avó: “ Aqui está o dinheiro mocinha. Aproveita e embrulha esse porta-retrato para presente, por favor.”
Eu, em pensamento: “Desculpe. Mas eu vou ter que bater em você.” Era tudo o que eu queria falar para a vendedora naquele momento, mas decidi ficar quieta – em respeito a minha avó, claro.
A vendedora: “Desculpe. Mas vou ter que cobrar de você.” Era só o que aquela vendedorazinha de araque foi capaz de dizer para mim.
Eu: “ Não acredito que fiz isso ! Quebrou, e agora ?
A vendedora: “É lindo mesmo esse patinho, custa treze reais.”
Minha avó: “Que graça, quanto custa ?”
Eu: “Que fofo esse pato de pelúcia na vitrine, vó !” Não deu outra, ela me pegou pelo braço e me arrastou para dentro da loja.
Estava com a minha avó passeando no shopping, quando fui inventar de dizer isso...


Essa crônica que vocês acabaram de ler, foi escrita de trás para frente. Achei que seria mais interessante contar desse jeito.

Pequeno-momento chato: nem conhecia a menina e quem acabou pagando pelo pato fui eu – afinal, nada mais justo do que dividir o valor do porta-retrato, que EU quebrei, com a minha avó.

Pequeno-momento feliz: e já que estamos falando em pato toda hora, porque não dizer também, que a aniversariante caiu como um patinho nessa história toda? Não que ela tenha sido enganada, mas minha avó salvou a minha pele, quando assumiu a culpa por ter quebrado o presente. Ufa !



Olhos. Para que te quero ?

São dez horas da manhã. Depois do meu longo e doloroso ritual ( realmente não tenho muita paciência para passar protetor solar; mas se existe um lugar que não deixo sem proteção é a boca, última parte do corpo que eu queria que ficasse enrugada um dia ) passando protetor solar, estendi a canga na areia e deitei.

Naquele sublime momento, meus olhos ( e porque não, minha mente também ) não queriam ver mais nada, a não ser aquele tapete de areia macia e o imenso “colchão” d’água turquesa que me cercavam.

O problema é que tudo aquilo estava parecendo tranqüilo demais para ser verdade. Mas fiz uma força tremenda para acreditar, juro. Foi quando virei o rosto, ainda deitada ( para não dizer estatelada ) e dei de cara com dois olhinhos me espionando. Imediatamente lembrei do rapaz mala que estava sentado do meu lado no ônibus. E mais uma vez pensei “ Tudo o que eu menos tinha vontade naquela viagem, era atrair olhares e atenção das pessoas ”. Em outras palavras, queria me sentir como o próprio ermitão dentro de sua concha.

Mas quem não se lembra da Lei de Murphy ? Sim, a tal que faz tudo o que você quer, acontecer. Só que do contrário. Tentei contar até dez, suspirei e desapeguei de tudo o que podia me aborrecer naquele momento. Resolvi olhar bem no fundo daqueles olhos que me encaravam ( por sinal pareciam duas mini suculentas jabuticabas de tão lindos e negros que eram ), com a mesma intensidade que eles, a algum tempo vinham fazendo comigo.

E não é que o jogo de olhares estava ficando interessante ? Mas só até os tais olhinhos se movimentarem rapidamente de lado, assim como fazem os siris. Para a minha surpresa, aqueles olhos não eram nada mais nada menos, do que os próprios olhos desse tal bichinho de praia.

Pequeno Momento Feliz : no final das contas, acabei rindo sozinha com o que aconteceu nesse dia. Aliás, não tem aprendizado melhor do que rir de si mesmo, principalmente em situações que nos causam stress e desconforto. Ah, e não se esqueçam : sol demais na cabeça pode causar miragens e alucinações...por isso, da próxima vez que forem à praia, não deixem de levar um guarda-sol ou um chapéu.